"A vida é uma sucessão de coisas vagas" (Jane Austen)

(11:30 pm) A água caindo da calha é tudo o que se ouve agora. No quarto escuro o brilho da tevê imprime à parede uma sucessão de cores intermi-nável, cuja profusão e caos, após longa exposição, acabam desprendendo sombras dos cantos mais insuspeitos do cômodo.

(12:06 am) Ouvir a cadência das gotas contra a janela, num crescendo contínuo até que se perceba um som semelhante ao de cachoeiras, é um passatempo que requer dedicação. Sua imprevisibilidade rítmica, no entanto, e a casualidade com que se espatifam contra o vidro, acalmam os ânimos em doses homeopáticas frustrando sistematicamente quaisquer expectativas.

(01:33 am) Cortinas ao vento são mesmo um clichê. Mas para que a sensação de movimento seja apreensível, se faz necessário embrenhar-se nesta imagem; buscar explicar, desta feita, a irregularidade das dobras de seu tecido; aquela pregnância comum às velas insufladas dos navios; ou ainda, chegar pelo menos à conclusão de que não há nada transcendental em se ficar divagando na janela durante um temporal...

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