"RUPTURA Y COMIENZO"

(publicado em 12/03/2004)
"Crítica do artista e seus meios de expressão: o que conta não é o que se propõe a dizer o poeta ou o pintor (o que chamam de idéias) mas sim o que disse efetivamente o quadro ou o poema. Nem arte didática nem este-ticismo. Não a beleza (o que é beleza?), nem o mito nem a história: somente o artista diante da tela. Seu tribunal não é o Estado, a igreja, o partido, o museu ou o dono da galeria (encarnação da grande e nova potência maligna: o mercado). Seu tribunal são suas obras. Diante delas o verdadeiro artista sente uma responsabilidade absoluta e permanente. De que consiste essa responsabilidade? Pintar bem, escrever bem, ser hábil, elegante, gracioso, profundo, surpreendente, divertido, dramático, elíptico, direto, misterioso -- em suma: ter talento -- não é difícil. Tampouco basta a perfeição. A arte pede mais -- e menos. Moral do artista: exigir-se cada vez mais -- trabalhar-se, combater-se -- não se dar trégua nunca -- desdobrar-se e multiplicar-se e voltar à unidade. Artista: histrião, santo e libertino. Vigília e abandono. Cada quadro, cada poema: uma experiência total e única, um testamento. E a cada dia começar de novo, diária sentença e diário abraço com o desconhecido. A arte é uma paixão rigorosa."

[Octavio Paz]

0 comentários: