Sofrer de véspera

Todas aquelas boas idéias que lhe ocorreram noite passada, quando à ocasião tentava conciliar o sono, desapareceram. Na manhã seguinte, ao acordar, se lembrou, talvez por acaso, de uma crítica dúbia que recebeu no tocante ao que escrevia, um parecer que, em linhas gerais, se ressentia de não poder ouvir a "verdadeira" voz do autor em seus textos, algo como "isso ainda não é você." "Mas quem era então?" flagrou-se perguntando a si mesmo, ainda na cama, num esgar de escárnio e rancor.

A lembrança dessa crítica, ainda que tanto tempo depois, não lhe pôde deixar em paz. Novamente o irritava a ambigüidade do argumento que, de resto, poderia ser aplicado a qualquer obra (à medida que se buscasse alarmar o alvo da menção maliciosa.) Mas por hora desejava apenas se livrar desses pensamentos incômodos para se concentrar em sua busca pelas idéias dissipadas durante o sono. Veio-lhe à mente então uma epígrafe que havia lido há não muito tempo: "Mas como encontrar a Beleza se ela está encerrada na mente, além de toda objeção?"
Infelizmente não poderia ir mais longe em suas objeções, pois uma voz envolta na reverberação áspera do corredor gritava-lhe que o almoço seria servido a seguir. (Continua...)

1 comentários:

Mari disse...

chegas quando por aqui???