Ninguém que a conhecesse...

Ninguém que a conhecesse desde a infância diri-a que fosse ficar tão bonita. Jamais lhe deram preferência os rapazes. Tampouco seu nome algum dia havia sido cogitado para as festas do colégio (como nos filmes americanos de universitários), a não ser porque ela sempre dava de presente algum brinquedo.

Nesse ponto, porém, é meu dever abrir um parágrafo e me concentrar em suas virtudes, as quais, devo lembrar, pareciam advir apenas de um dos vértices da "santa trindade": de bela, inteligente e graciosa, só lhe cabia esta última, e mais nada (algo em si insignificante para que se sentisse triste ou diminuída.)

Ela mais tarde chegaria à conclusão de que os homens, em sua maioria os mais novos, pouca ou nenhuma visão possuíam sobre o que há de promissor na beleza de uma jovem. E por essa razão (a de não enxergarem muito longe) acabavam descartando algumas com dons promissores (já que à tenra idade muitas delas são estúpidas ou tímidas), optando pela busca de um romance com mulheres mais maduras.

Quanto à metáfora da jovem que um belo dia desabrocha feito flor, por favor, é excessivamente romântica. Nem mesmo a história da menina estabanada que outrora preterida é agora cortejada, sinto muito, não cola. Ela não tem tempo para fábulas. Ela não trabalha numa fábrica. Nunca foi pobre, nem rica, nem milionária... Tampouco é uma rústica florista com a alma de uma dama. E do antigo estigma lhe resta apenas a agradável sensação de ser quem é, em vista do que foi, orgulhosa de ter feito sacrifícios e de ser recompensada pelo esforço.

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