Black Moses

É o nome de um disco do Isaac Hayes (que aliás não me canso de citar). A última que descobri dele, além dos funks de perseguição, ao que alguém pode retrucar "ah, só agora você soube?", é que a belíssima batida e o acompanhamento incidental da música "Glory Box" (aquela célebre do Portishead) foram sampleados de um clássico anterior do mesmo Hayes, "Ike's Rap II". Fiquei de cara porque o Portishead não mudou praticamente nada do que eu achava ser fundamental na canção -- o que coincide, por sua vez, com tudo aquilo que venho admirando na orquestração romântica e pungente de Hayes. Será ele uma espécie de profeta do romantismo black como se propõe, arrojado?

Este post destina-se, no mínimo, àqueles que conhecem pelo menos essa música do Portishead, Glory Box, ou aos interessados em música negra e suas influências (nada angustiantes). E aonde encontrar músicas desse Moisés preto? Dá-lhe Kazaa Downloads. Afinal, música é quase uma religião (é ouvir pra crer...)

Os credores do mundo: lições de economia sentimental

O que fazer para diminuir as taxas de inadimplência afetiva? Uma boa solução, já apontada por políticas sentimentais anteriores (os ditos "clássicos"), seria a declaração da moratória de uma dívida que todos sentem em relação ao mundo: isto é, precisamos acabar com os "credores do mundo". E para isso, infelizmente, vale a máxima "é preciso perdoar"... Um potencial credor do mundo é aquele que está sempre acusando seu parceiro econômico de "receber sem se dar", e com isso essa dívida pública acaba virando uma bola de neve. Há tantas pessoas (pelo menos eu conheço um monte) acreditando que a vida deve a elas alguma coisa... Qual a conseqüência? O banco central já mandou imprimir tantas notas promissórias para o desejo que o mercado hoje em dia está inflacionado de paixões, muitas das quais sem lastro nesse mercado simbólico que é o viver. E isso favorece a especulação... Estou sendo claro?

Não por mim...

Estão escrevendo canções de amor por aí graças a uma estrela que brilha lá em cima, mas que não brilha por mim... Com o amor me mostrando o caminho eu encontrei os dias mais cinzas que nenhum romance russo vai jamais reproduzir... Fui tolo quando caí, ficando desse jeito, e embora eu fracasse em esquecer do seu beijo, acho que não era mesmo pra mim...

PS.: antes que eu me esqueça, a queixa acima foi por mim livremente traduzida do standard jazzístico "But not for me", dos irmãos Gershwin, e tanto Chet Baker como Billie Holiday foram responsáveis pelas melhores versões desse clássico... (quem foi que disse que uma canção brilhante soa anti-natural se apenas lida ao invés de cantada?)

Cartas na mesa

Os naipes são o mais bonito: preto e vermelho, o veneno e o antídoto. E às vezes valem mais na mão do que na mesa. É uma questão de mostrar e esconder. Um carta na mesa é um ato de afirmação por excelência. Mas uma carta na mão é apenas uma carta. Aquele dia bebemos bastante, e como sou um novato no jogo de buraco, posso dizer que fui até muito bem. E é bem sabido que buraco é um jogo de gente que fala com desenvoltura, talento esse que não é pouco nos dias de hoje. Ou seja: é justamente uma boa conversação o que anima esse tipo de jogo (ou até quem sabe uma boa compra ou um bom descarte...) Mas daí dizer que "viver é saber comprar ou descartar" já é incorrer numa metáfora fácil e propensa a chavões à la "jogo da vida". Quem sabe viver seja um bluff?

Um estudo debochado sobre as relações entre "malhar" e "autoflagelar-se"

"Tanta gente tem o corpo tão bonito
mas tem a alma toda tatuada..."
(Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito)
Ir pra academia, correr, levantar pesos, suar, extenuar-se e olhar-se no espelho... e nada. Nada, dia após dia, nada, até que das cinzas de um mês árido, oprimido pelo suor e as anilhas, você se descobre impávido revestido de um bíceps, um tórax, um trapézio e um abdômen cuja definição pode fazer de você um "eleito". É aquela velha história (da carochinha): corpo são, mente sã. É mentira! como diz o padre "Queazedo". Não malhar traz culpa para alguns, isso é bem sabido. E eu não diria que a academia é uma igreja, mas sim um templo. E nele, sob constrição (de ferros e pesos), oramos com devoção, partilhamos do sagrado isotônico e ingerimos copiosamente as divinas proteínas.

Sabem que esse tema me inspirou um outro? Numa outra ocasião, farei uma palestra sobre "tatuagem & atitude".