Cada país tem os educadores que merece
Não, não se trata de um editorial do Gilberto Dimenstein, mas sim de algumas palavras sobre o recém lançado DVD do filme "The Edukators", uma produção germânica con-temporânea e, pelo fato mesmo de ser alemã, contundente e corrosiva. Atuações fortes, bom roteiro, luz natural, música pop e, o mais importante, uma abordagem sen-sível para um tema espinhoso: a vida daqueles que não se conformam com o sistema capitalista.
Seguindo uma premissa levemente parecida com a de "Os Idiotas", do Manifesto Dogma, "Edukators" mostra como os destinos de três jovens se entrelaçam em torno de uma causa, por que não dizer, subversiva (eles invadem sistematicamente mansões de pessoas abastadas para "subverter" coisas como a ordem da mobília, por exemplo) sempre tomando cuidado para não deixarem pistas nem levarem nada. A idéia é somente apavorar essa burguesia abastada, assombrá-la, deixando ainda, antes de saírem do local, uma carta na qual se lê o seguinte augúrio: "seus dias de fartura estão contados".
A parceria estabelecida entre dois amigos (ver foto) nessas intervenções é abalada quando a namorada de um deles se apaixona pelo amigo de seu namorado, o qual, sendo o mais idealista dos três, acaba contando a ela sobre suas ações secretas. Não demora muito para que ela queira se juntar à dupla para vingar-se de um rico empresário, o qual ainda move uma ação contra ela em decorrência de um acidente de automóvel, ocorrido tempos atrás, que praticamente a endividou para o resto da vida. A brincadeira, contudo, dá errado e eles são obrigados a seqüestrar o empresário quando este, inesperadamente, chega a sua casa no meio da ação e reconhece a garota. E é aí então que o filme começa a ficar bom.
Embora o roteiro do filme, a partir desse ponto, traga uma grande contribuição ao conflito de gerações, trazendo à nossa mente aquele dito segundo o qual o homem é um incendiário na juventude e um bombeiro depois de maduro, o desfecho não deixa de ser “centrista”.
Trocando em miúdos, o filme não desce do muro. A relação que se estabelece durante o cativeiro entre o yuppie e os jovens idealistas é sensacional do ponto-de-vista humano, ensejando momentos antológicos (chegamos a nos identificar com o opressor... mas quem oprime quem afinal?) enquanto se dá uma lenta e sutil identificação entre o conservador e os liberais que, afinal, nem eram tão liberais assim. E acontece que quando achamos que os papéis irão se inverter, isso não ocorre. E os dois lados, cada um à sua maneira, acabam se dando bem. A Síndrome de Estocolmo para a qual o filme até então vinha caminhando não persiste afinal. Uma pena, pois para uma abordagem surpreendente, um final demasiado prudente... Mas assim é a política, assim é a vida.
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