Old Boy
Lendo e relendo o que foi escrito até agora pela imprensa a respeito de Old Boy (2004), do diretor coreano Park Chan-wook, não fui capaz de descobrir sequer uma crítica negativa a respeito desse filme, o que talvez seja, a meu ver, um reflexo da imensa aceitação do cinema oriental junto às platéias do Ocidente. Não estou querendo dizer aqui que todo filme coreano, japonês ou chinês seja bom, mas é inegável que seus cineastas cada vez mais têm produzido excelentes filmes, com roteiros e atuações, pra dizer o mínimo, infinitamente superiores ao que tem sido feito na América.
Mas vamos aos fatos: o longa coreano é cinema em estado puro. Seu roteiro imbricado e, por que não, exagerado, é de certa forma magistral em sua coesão claustrofóbica, embora os cultores do velho estilo linear de se contar uma história possam torcer o nariz. Tudo o que se sabe é que Oh Dae-su, um homem teimoso e temperamental, passa 15 anos confinado numa estranha prisão, cuja cela é na verdade um quarto de hotel sem qualquer contato com o mundo exterior. Durante todo esse tempo, sem saber o motivo pelo qual o prenderam, não são poucas as tentativas de suicídio de Oh Dae-su, bem como suas tentativas de fuga (da realidade). Mas ao cabo desse prazo, Dae-su é inesperadamente libertado, ao que lhe é dado um celular para que finalmente seu misterioso algoz entre em contato. Mal sabe Dae-su que sua vida do lado de fora não será muito diferente da vida no cárcere.
Uma vez solto, Dae-su ainda está atordoado. O fato de ter sido privado da liberdade, durante tanto tempo e de forma tão abjeta, fez com que o outrora pai de família se tornasse um verdadeiro animal. E partir desse momento, Dae-su não saberá mais se sua busca é por vingança, por sua filha ou pela verdadeira razão de seu castigo. Nesse ponto, o roteiro de Chan-wook revela-se hábil ao lançar pistas falsas para o espectador, embora consiga, de maneira exemplar, amarrar as pontas soltas da trama, num crescendo arrebatador até o final surpresa que, vale dizer, nada fica a dever à mais desalentadora das tragédias gregas.
Qualquer semelhança com o teatro existencialista de Samuel Beckett ou a fábula pop dos filmes de Tarantino, não se trata apenas de uma coincidência. Pois tanto na obra destes quanto no próprio filme, pode-se dizer que a morte é a única forma de conhecimento possível.
Citações memoráveis: "Mesmo que eu não passe de um monstro, não tenho eu o direito à vida?" (Oh Dae-su) "A TV é tanto um relógio quanto um calendário. Ela é a sua escola, sua casa, sua igreja, seu amigo..." (a respeito de seu único meio de contato com a realidade durante o cárcere) "QUEM eu sou não importa. POR QUE eu sou é o que importa..." (Woo-jin Lee, inimigo de Oh Dae-su) e pra chutar o pau da barraca: "Lembre-se disso: seja um grão de pedra ou de areia, ambos afundam do mesmo jeito".
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