Tiradas do interior

A caminho de casa, de carro, desviando dos buracos e tomando o cuidado de não esbar-rar o pára-choque na perna de um incauto, medito sobre a reação agressiva do "homem do campo", do sujeito provinciano, a tudo o que ele desconheça (ao que às vezes dá-se o nome de preconceito). Eu não tinha em mente exatamente um Jeca Tatu, esse auto-retrato arrependido e atormentado de Lobato, mas do homem mesmo que, temendo a possibilidade de viver apenas relacionamentos tênues ou frívolos nas grandes cidades (onde ninguém conhece ninguém e onde seu nome não faz sombra na praça), acaba não abandonando seus parentes e compadres (espécie de quid pro quo familiar).

É a sensação de quem chega num ambiente e a conversa, até então fluente e animada, subitamente dá lugar a um silêncio ou pergunta solitária do tipo "tem horas?" Outra imagem que não sai da cabeça é a do monte de feno rolando (só a porta é que não era a de um saloon) embora sempre as mesmas pessoas ficassem olhando, sejam através das janelas ou agachadas atrás do balcão (clichê do faroeste que hoje encontra equivalente no insulfilm covarde dos carros e atrás da hipocrisia dos óculos escuros blindados).

Funciona assim: "amiga de quem mesmo? Onde ela mora? Do sobrenome você se recorda? (Da marca do carro bem que você lembra...) Já foi namorada de quem? Quarta série quando? Em que colégio? De que tamanho? Aquela que chorava no recreio? A que perdeu a virgindade pro beltrano?"

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