Os idiotas da objetividade (jornalística)
Em sua acepção mais geral e deslocada do contexto jornalístico, pauta vem a ser um objeto (um tema) ao qual se mantém mais ou menos fiel um sujeito. Mas que tipo de fidelidade é essa, tão preconizada pelas instituições em nossa época, a um objeto que esse sujeito sequer conhece (por mais que sua "credibilidade" e suas pesquisas sobre o assunto o "habilitem" para tal)?
Fica a pergunta: quem neste mundo, vivo ou morto, estará habilitado (institu- cionalmente ou não) para desvendar o verdadeiro segredo da Coisa (heiddegerianamente falando)? E o que impede esse sujeito de se esquivar de algo que, embora não exista além da linguagem, tange sua fala de maneira coercitiva de modo a lembrá-lo que isso não pertence aos seus domínios? Quem estará apto a reconhecer um discurso puro que exclua, de antemão, objetos periféricos ao centro de uma questão tão descentralizada? Não seria essa a razão pela qual o gênero jornalístico se encontra hoje tão desacreditado? Um descrença, eu acrescentaria, que se deve em grande parte à tola premissa de uma imparcialidade e objetividade que, guiadas por uma ansiedade ou pressa de se chegar ao ponto, impedem o sujeito de se deter pelo caminho e desfrutar da paisagem "chapada" da linguagem...
NOTAS DE RODAPÉ: "Credibilidade", segundo a "teoria" jornalística, é o pacto que se estabelece entre o público e um artefato jornalístico (um âncora ou um texto) na condição de que o primeiro se sinta tranqüilizado diante dos signos que assinalam a presença da verdade no segundo. "Habilitação", por sua vez, funciona como uma espécie de alvará ou autorização para o praticante do discurso jornalístico, que em posse dela se sente irremediavelmente confortável para, dentro dos trâmites da linguagem, fugir do assunto sem no entanto sofrer a sanção da imprecisão (lembrando que toda autorização implica a idéia de autoria, e, logo, de autoridade).
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