O glamour da arte (mas não do artista)

Vejamos o escritor, esse ser "misterioso", fascinante e narcisista, arquiteto de universos e romances: uma espécie de deus. Pode ser inclusive aquele homem soturno, habitué de cafés, com seu cachecol kitsch em nosso verão tropical. Mistura de existencialismo e carnaval, também conhecido como filósofo-folião.

E quanto aos artistas plásticos, vulgarmente conhecidos como pintores (para seu desespero)? Detestam falar sobre suas influências, uma vez que se julgam incomparáveis. Preferem, aliás, citar sempre obras desconhecidas, que ninguém viu, de modo que a comparação seja evitada e possam além disso gozar da fama de terem resgatado ou relançado alguma coisa injustiçada pelo establishment.

Diferentemente dos artistas plásticos, os músicos, por sua vez, simplesmente amam citar suas referências. Gostam, inclusive, de citar que são músicos. Vejo que ultimamente alguns músicos se preocupam tanto em rastrear suas influências, o que gostam de ouvir por exemplo, que acabam se descuidando com o que se faz ouvir. Sabe como é, do prato à boca perde-se a sopa...

Ah, não nos esqueçamos dos homens e mulheres de teatro. O fato é que a tela onde pintam ou o papel em que escrevem pertence aos domínios não só da personalidade como também aos domínios do corpo. São, ao mesmo tempo, criadores e criaturas, e o mesmo esmero que o pintor emprega na tela, eles, os atores, aplicam a si mesmos, de modo que o zelo pela obra ou personalidade pode às vezes incorrer numa descarada egolatria...

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