A origem da inspiração
escrito em 17.7.04 0 comentários
Isso não é verso, claro...
escrito em 13.7.04 0 comentários
O hieratismo indecifrável de Charles Mingus
Alguns adjetivos para a obra desse homem, sob o risco de obscurecê-la, poderiam bem indicar o atalho de sua poética profunda, extravagante, opulenta porém glamourosa, epifânica, solene, dramática... Dizem os jazzófilos que, ao morrer no México em 1979, centenas de baleias morreram encalhadas nas praias daquele país. E o fato de ter sido arranjador, compositor, intérprete e band-leader só me fazem pensar no quão hierático foi o recorte dessa figura (de boina e suspensórios), um homem de temperamento tão corpulento como seu próprio contra-baixo atrás do qual ele exortava os companheiros segundo seu humor (mood) não raro aguerrido, durante a batalha, como se tangesse as cordas de uma lira mais robusta e mais pesada.
escrito em 10.7.04 0 comentários
A arte do desencontro
escrito em 8.7.04 0 comentários
Summer 2002
escrito em 21.6.04 0 comentários
Ó me diga a verdade sobre o rancor
Contudo, quais são as metas do rancor senão as de destruir seu portador? Que sentimento é esse que visa tão somente destruir o sujeito usando sempre um outro de tabela? Será que é livre feito um pássaro ou apenas um garoto? Será uma inveja daquilo que não somos? Será que ele vai pisar no meu pé dentro do ônibus? Ou ele será menos espalhafatoso, da ordem do ordinário, que se senta à nossa mesa, divide nosso teto e ainda ri conosco? Ó me diga a verdade sobre o rancor...
escrito em 9.6.04 0 comentários
Rocco i suoi fratelli
O amor é mesmo sistemático, e se em casa amor não há, o grande amor da mãe é sua prole (depois vem o quintal e a sala-de-estar...) E no meio da noite aquela angústia, um vazio implacável, a vontade dela e a do outro tão longe (duas coisas indistintas...) Será que ele vai-se lembrar de fechar a janela? Quem lhe fará uma sobremesa como a minha? E assim se levanta, pega um copo na cozinha, volta e se cobre. E antes de dormir ela se indaga: será que um dia vão conseguir uma esposa?
escrito em 9.6.04 0 comentários
Folhas de Outono (Autumn Leaves)
Mas do lado de cá do equador, embora não tenhamos frio nem tantas folhas no chão, também temos nossas épocas, e sabemos, como os antigos instintivamente o sabiam (vide a fábula da cigarra e a formiga) que pra tudo há um tempo, uma ordem na qual as coisas devem ser feitas. Antes de tudo, a vida requer preparo (para as alegrias e os infortúnios). E se o tempo muda e as árvores se agitam -- um vento frio nos corta o rosto -- sabemos, no aconchego do pensamento, que o Outono é o prelúdio que precede o Final. De modo que...
escrito em 8.6.04 0 comentários
Os investimentos metafísicos
escrito em 5.6.04 0 comentários
Countryside blues
escrito em 2.6.04 0 comentários
Complexo de Dona Flor
escrito em 1.6.04 0 comentários
Black Moses
Este post destina-se, no mínimo, àqueles que conhecem pelo menos essa música do Portishead, Glory Box, ou aos interessados em música negra e suas influências (nada angustiantes). E aonde encontrar músicas desse Moisés preto? Dá-lhe Kazaa Downloads. Afinal, música é quase uma religião (é ouvir pra crer...)
escrito em 28.5.04 0 comentários
Os credores do mundo: lições de economia sentimental
escrito em 26.5.04 0 comentários
Não por mim...
PS.: antes que eu me esqueça, a queixa acima foi por mim livremente traduzida do standard jazzístico "But not for me", dos irmãos Gershwin, e tanto Chet Baker como Billie Holiday foram responsáveis pelas melhores versões desse clássico... (quem foi que disse que uma canção brilhante soa anti-natural se apenas lida ao invés de cantada?)
escrito em 19.5.04 0 comentários
Cartas na mesa
escrito em 15.5.04 0 comentários
Um estudo debochado sobre as relações entre "malhar" e "autoflagelar-se"
"Tanta gente tem o corpo tão bonito
mas tem a alma toda tatuada..."
(Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito)
Ir pra academia, correr, levantar pesos, suar, extenuar-se e olhar-se no espelho... e nada. Nada, dia após dia, nada, até que das cinzas de um mês árido, oprimido pelo suor e as anilhas, você se descobre impávido revestido de um bíceps, um tórax, um trapézio e um abdômen cuja definição pode fazer de você um "eleito". É aquela velha história (da carochinha): corpo são, mente sã. É mentira! como diz o padre "Queazedo". Não malhar traz culpa para alguns, isso é bem sabido. E eu não diria que a academia é uma igreja, mas sim um templo. E nele, sob constrição (de ferros e pesos), oramos com devoção, partilhamos do sagrado isotônico e ingerimos copiosamente as divinas proteínas.Sabem que esse tema me inspirou um outro? Numa outra ocasião, farei uma palestra sobre "tatuagem & atitude".
escrito em 3.5.04 0 comentários
Mise-en-scène e saídas de estilo
O que fazer então quando já se disse o bastante? Calar? Qual o momento certo para abandonar a cena, o campo ou o palco, seja o que for, mas quando? Quando dar a vez aos coadjuvantes? Seja a chave de ouro de um soneto ou um pedido de substituição no segundo tempo, o que caracteriza um bom arremate? Será a idéia de desfecho uma obsessão na América? Hollywood, por exemplo, acredita que um bom desfecho só pode vir depois de um grande clímax. Já a escola francesa, de um modo geral, recorria a um fade silencioso e polido. E o que dizer de Charles Chaplin então, que criou uma grande tradição de vagabundos cinematográficos que sempre acabam tristes e sem a mocinha? Aliás: quem tem medo de finais felizes?
escrito em 23.4.04 0 comentários
"Pois, se é verdade que aqueles
Julia Kristeva, in Black Sun.
escrito em 20.4.04 0 comentários
Infelizmente não temos muitas dessas por aqui. E se nunca a vimos, então a palavra é obscura. Segue uma tentativa de tradução:
A AVELEIRA EM FLOR
Em meio
ao
verde
velho
e firme
brilho
de um ramo
partido
vem
doce e
branco
Maio
outra vez.
(William Carlos Williams, trad. Edgard Murano Fares Filho)
escrito em 16.4.04 0 comentários
A nostalgia do Isley Brothers
O som desses caras, sem dúvida, remonta a um tempo que de fato não vivi (mas que hoje começamos a viver novamente com a ressurgência do estilo) quando os djs queriam deixar um clima mais romântico botando um Isley ao fundo. Canções como "Contagious", por exemplo, de repente trazem de volta toda aquela atmosfera dos anos 70 com um ritmo que oscila entre o charme e o funk. Ou melhor: imaginem uma manhã de sol na periferia, você descendo pra Santos no seu opalão bege ouvindo Isley Brothers (ah já não fazem mais black como antigamente...)
escrito em 13.4.04 0 comentários
Numa noite chuvosa...
escrito em 6.4.04 0 comentários
Rastro
Ah, se essa vida é uma trilha que a gente não sabe aonde vai dar, há certamente sinais pelos quais podemos nos guiar. Mas cuidado: muitos são os falsos sinais que não passam de desvios, percalços, atalhos... Desse modo, deixam de ser úteis e de rastro passam a ser resíduo, detrito. Ou seja: eu falo das pessoas que nos legam, por onde quer passem, o rastro peculiar de sua existência...
Em verdade vos digo: convém vivermos da maneira mais sutil e concisa, sem deixar indícios inúteis às nossas costas (sem deixar lixo). Não é à toa que o tal desodorante tinha o nome de "rastro" (uma fragrância só deve ser sentida quando chegamos bem perto de sua origem, nunca à distância...)
Há pessoas que vivem esbaforidamente e suas maneiras são tão suaves como as de um tornado. Destruir é mais fácil do que criar, eis a máxima do zagueiro na defensiva (e o sentimentalismo vem depois). Abaixo a procrastinação!
Para esses que têm mordomos mas não têm amigos, eu digo: não adiem seu destino. Não temos mordomos mas temos amigos. Axé, velho Ezra!
escrito em 5.4.04 0 comentários
A falta de assunto,
Falar sobre cinema... haja saco. E só pra registrar: fui ver o "Cristo" de Mel Gibson e digo a vocês com convicção, don't believe the hype. Já viram aqueles caras que se penduram por ganchos cravados na pele? Acho que nem só eles gostaram do filme. A paixão do Jesus de Gibson é por sangue e efeitos especiais. Mas vai ver que era isso o que ele queria mesmo. Talvez tenha sido uma saída retórica usada pelo diretor para resgatar a suposta mensagem religiosa que há muito tempo vem sendo soterrada pelo mito edulcorado cristão de um Jesus que morre doce e gloriosamente. Aqui no Brasil, e fica a sugestão, que tal se fizessem uma "Paixão de Tiradentes"? Aliás, meu pai me disse ao telefone que achou o filme "horrível". Ah, amarga doutrina a de ter uma opinião formada sobre cinema!
escrito em 4.4.04 0 comentários
O virtuosismo do jazz está de volta
escrito em 1.4.04 0 comentários
O discurso da paixão de Cristo
escrito em 17.3.04 0 comentários
O divino e o mundano em Marianne Moore
escrito em 14.3.04 0 comentários
Porcos-joalheiros
As conseqüências mais indesejáveis de atirar pérolas aos porcos, já dizia meu velho amigo J., é que esses porcos, não raro, podem ser porcos-joalheiros. Isso acontece quando temos a impressão de que o sujeito cuspiu no prato que lhe oferecemos. Ou pior: os porcos joalheiros não fazem a menor idéia do que seja aquilo que lhes atiramos, mas sabem, segundo o ofício mesquinho da vida que levam, que aquilo tem um valor corrente (de uma jóia ou moeda). Assim, aquilo cujo valor está intimamente ligado à nossa pessoa, a estima que investimos nesses suínos ao presenteá-los com um objeto ou conhecimento, corre o risco de se ver barganhado diante de nossos olhos. A inveja encontra morada precisamente no desconhecimento da razão da felicidade do outro. Assim, invejosos, elegemos um responsável por essa felicidade, um objeto, humano ou não, o qual almejamos como chave para a felicidade nossa também. Contudo, no fundo não sabemos porque o outro é feliz com aquilo e quando temos esse objeto em nossas mãos só podemos desfrutá-lo parcial e superficialmente (e sempre na presença do outro, claro). Os porcos aos quais atiramos nossas pérolas são aqueles mesmos que outrora chapinhavam na lama da ignorância e insensibilidade, mas que sempre manterão essa relação especulativa em relação ao outro que invejam. Se aquilo agrada àquela pessoa, deve ser valioso então! Não serão eles os "atravessadores" da verdade?
escrito em 7.3.04 0 comentários