Porcos-joalheiros

O que amas de verdade permanece, o resto é escória (Ezra Pound, The Cantos, LXXXI)

As conseqüências mais indesejáveis de atirar pérolas aos porcos, já dizia meu velho amigo J., é que esses porcos, não raro, podem ser porcos-joalheiros. Isso acontece quando temos a impressão de que o sujeito cuspiu no prato que lhe oferecemos. Ou pior: os porcos joalheiros não fazem a menor idéia do que seja aquilo que lhes atiramos, mas sabem, segundo o ofício mesquinho da vida que levam, que aquilo tem um valor corrente (de uma jóia ou moeda). Assim, aquilo cujo valor está intimamente ligado à nossa pessoa, a estima que investimos nesses suínos ao presenteá-los com um objeto ou conhecimento, corre o risco de se ver barganhado diante de nossos olhos. A inveja encontra morada precisamente no desconhecimento da razão da felicidade do outro. Assim, invejosos, elegemos um responsável por essa felicidade, um objeto, humano ou não, o qual almejamos como chave para a felicidade nossa também. Contudo, no fundo não sabemos porque o outro é feliz com aquilo e quando temos esse objeto em nossas mãos só podemos desfrutá-lo parcial e superficialmente (e sempre na presença do outro, claro). Os porcos aos quais atiramos nossas pérolas são aqueles mesmos que outrora chapinhavam na lama da ignorância e insensibilidade, mas que sempre manterão essa relação especulativa em relação ao outro que invejam. Se aquilo agrada àquela pessoa, deve ser valioso então! Não serão eles os "atravessadores" da verdade?

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