da série "Ingredientes Ideais"

Sob a luminosidade encantadora de Landkreise, região rural da Bavária, um grupo de fräuleins dirige-se para o campo onde são cultivadas as célebres blueberries. Esses pequenos frutos silvestres, que guardam parentesco com a nossa amora brasileira, são largamente empregados pela culinária ocidental na ornamentação de pratos sofisticados e na confecção de sobremesas.

Com seus rostos angulosos e feições que lembram o ideal grego de beleza apolínea, como se estátuas da Renascença de repente criassem vida, essas jovens emprestam a sutileza de seu toque para apanhar os delicados frutos sem que estes sejam esmagados, o que seria deveras ruinoso para a conservação de seu refinado sabor.

Segundo a tradição local, para a colheita das blueberries são escaladas apenas as mais belas jovens de cada burgo, sendo além disso indispensável que se garanta a castidade de cada uma delas até o momento em questão. Fazendo um paralelo à culinária japonesa, que considera a elevada temperatura corporal das mulheres um obstáculo ao preparo de bons sushis, é sabido que na colheita das blueberries o fato de alguma garota não ser mais virgem pode alterar o sabor do fruto. Do ponto de vista científico, isso se explica através de uma reação química que se dá entre um tipo de ácido contido nas blueberries e hormônios presentes no organismo de mulheres que mantêm relações regularmente ou que possuam filhos.

Os excelentes cestos de madeira trançada, produzidos localmente pelas mãos de experientes artesãs, também são um fator determinante para a calagem do sabor desse fruto, sensível à luz, poeira, umidade, intensidade do vento e outros fatores conhecidos apenas pelos produtores rurais landkreiseanos.

No mercado gastronômico negro francês podem ser obtidas pequenas porções desse fruto, cujo contrabando vem sendo implacavelmente combatido pelas autoridades mundiais, que alegam não serem salubres nem éticas as condições de plantio das blueberries. Isso ocorre devido ao número cada vez mais escasso de voluntárias para a colheita, o que força os produtores a manterem campos de concentração ilegais cravados nos ermos vales dos alpes landkreiseanos, onde inúmeras jovens são mantidas cativas e impedidas de manterem relações ou engravidarem.

Ao lado de ativistas que combatem o consumo de fois-gras já estão algumas organizações não-governamentais empenhadas em banir esse exótico elemento da high cuisine mundial. No entanto, blueberries sem atestado de procedência e que não contemplem as condições ideais de produção dificilmente alcançam um bom preço no mercado. Além disso, experts e renomados chefs de cozinha não garantem a qualidade de pratos preparados sem os frutos ideais.

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