Contra a Parede
Longa turco-germânico é tudo aquilo que Hollywood gostaria de ser
Contra a Parede (2004), de Fatih Akin, é um daqueles filmes que os americanos adorariam aprender a fazer, faltando-lhes, no entanto, know-how para a tarefa. E cacife para fazer um filme desses, felizmente, nada tem que ver com produções milionárias e protagonistas conhecidos internacionalmente. Com um roteiro brilhante e atuações vigorosas, Contra a Parede é um soco no estômago daquelas pessoas acostumadas às histórias de amor sentimentalóides que Hollywood não se cansa de contar...
Sibel (Sibel Kekilli) é uma jovem de família muçulmana que procura desesperadamente escapar à rígida educação praticada por seus pais. Como se não bastasse, o irmão mais velho de Sibel é machista e superprotetor, com valores profundamente enraizados nas tradições de seu país. Diante de um histórico de tentativas de suicídio por parte da jovem, sua família resolve interná-la numa clínica, onde Sibel conhece Cahit (Birol Ünel), ao qual propõe, mesmo sem conhecê-lo direito, um casamento de fachada (com o intuito apenas de se livrar de sua família) uma vez que Sibel sabe sobre as raízes turcas de seu futuro pretendente.
Cahit, por sua vez, é um homem soturno e sem amor à própria vida, que vive de bar em bar bebendo e arranjando confusão desde que sua mulher morreu. Sua estadia na clínica onde mais tarde viria a conhecer Sibel aconteceu justamente por causa de um acidente (numa tentativa mais ou menos dissimulada de suicídio) envolvendo uma batida de carro a toda a velocidade contra um muro. A partir daí (e de onde parece advir o nome do filme) a vida do turco jamais seria a mesma. Uma vez casados, ambos levam suas vidas independentemente, cada qual com seus parceiros, e tudo parece ir bem até que Cahit, numa crise de ciúmes, mata um dos parceiros de Sibel, ao que termina cumprindo pena.
Contra a Parede é, no final das contas, uma história de amor tragicômica, já que não lhe faltam momentos risíveis como, por exemplo, quando Cahit, decidido a participar da farsa proposta por Sibel, vai até a casa da jovem formalizar um pedido de casamento aos pais dela. Porém, nem é preciso dizer que a ênfase do filme é na tragédia, de tal forma que o diretor Fatih Akin habilmente intercala momentos narrativos com números musicais típicos, o que acaba soando como um coro de tragédia grega ao cantar as desventuras de seus heróis.
(Sibel Kekilli, no papel da geniosa e desencontrada Sibel, é mais um exemplo de como uma direção "perfeita" resulta em atuações igualmente impecáveis. Apenas para constar, Sibel, na vida real, já foi estrela de filmes pornográficos, o que pode ou não explicar seu talento irreprimível para seduzir, seja Cahit ou o próprio espectador...)
1 comentários:
Nossa, que transimento de pensação, acabei vendo esse filme ontem à noite!
O filme é envolvente sim, gostei da indicação. Filmes de Hollywood nunca conseguirão fazer nada parecido, afinal tragédias não vendem tanto quanto os romances "happy end" e ou as pseudo pornô-comédias americanas.
Ótimo texto e ótima indicação.
Bjos!
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