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Rapaz se distrai com aparelho no centro de São Paulo e se dá mal
Um aviso: procura-se um iPod branco, no formato de uma saboneteira, perdido na região central da cidade de São Paulo na tarde de ontem. O sofisticado aparelho, com 30 Gb de memória, foi deixado em cima do balcão de um botequim, situado nos arredores da Praça da Sé, durante uma parada estratégica no banheiro do estabelecimento. Seu dono, que não quis se identificar, disse que esvaziou a mochila para pegar sua carteira e, por descuido, deve ter-se esquecido de recolher o aparelho. "Não deu nem tempo de levantar a tampa do vaso," desabafa. "Uns quinze ou vinte segundos, no máximo, e quando eu voltei ele já não estava mais lá."

O dono do bar, Seu A., compareceu ontem à delegacia da Sé para prestar depoimento. Segundo o mesmo, não havia ninguém no local além dele e da própria vítima. O caso foi arquivado por falta de provas.

Na manhã de hoje, nossa redação tentou entrar em contato com o jovem dono do aparelho furtado. Alegando que seu filho estava de cama devido a uma infecção na garganta, o pai do rapaz concordou em conversar conosco. S. D., 43, que mora na Saúde, zona sul, disse que o iPod foi um presente de Natal dele e de sua esposa para o filho. "Tivemos de fazer uma boa economia para comprá-lo, um sacrifício danado. Sorte nossa que uma prima da minha mulher, que é garçonete na Flórida, estava vindo passar o Natal no Brasil." A uma certa altura da conversa ele pediu licença e mandou, com a voz ríspida, alguém que seria provavelmente sua mulher abaixar a televisão.

O iPod, produzido pela empresa Apple, tem causado verdadeira celeuma entre jovens e adultos devido ao seu desenho arrojado e compacto. Não bastasse tocar e armazenar músicas no formato mp3, essa nova tecnologia tornou-se um objeto de culto até mesmo para quem não era muito chegado a música. Independente do que se ouça nele (de axé até música dodecafônica), possuir um aparelho desses é, de certa forma, um sinal de status.

Com o intuito de redigirmos matérias de gaveta para reportagens futuras, dada a popularidade do tema, perguntamos ao pai do jovem incauto que tipo de música ele costumava ouvir. Orgulhoso, S. D. comentou que às vésperas do ocorrido ele havia ajudado o filho a traduzir o manual de instruções do software que acompanha o aparelho, mas que infelizmente, por possuírem conexão discada em casa, não foi possível baixar muitas canções. "Mas ele é um menino bom, só um pouco voado. Entende muito de computador e é um verdadeiro apaixonado por música, muito eclético. Gosta de samba, música étnica... é assim que se fala? Música eletrônica ele gosta (sic) bastante também, mas aí eu já não gosto, pra dançar prefiro as minhas orquestras de antigamente. Mas no aparelhinho dele tinha lugar pra tudo: de Jovem Guarda até Jeito Moleque, e por aí vai..."

O mesmo modelo do aparelho furtado pode ser encontrado no site Amazon.com por 294 dólares (aproximadamente 676 reais.) "É muito dinheiro," lamenta o pai antes de desligar o telefone, "mas o importante é ter saúde." É verdade, Seu S. D., não temos outra escolha a não ser concordar com o senhor, nesses casos o importante mesmo é ter saúde...